Há um momento em que o espelho quebra.
Não por acidente, mas por cansaço.
De tanto olhar para fora — para o outro, para a tela, para o ideal —
o sujeito esquece que há um centro que pulsa em silêncio, pedindo escuta.
Chamamos isso de vida,
mas muitas vezes é só reflexo, repetição, projeção.
O carro que dirijo, a marca que visto, a casa que habito,
seriam mesmo eu?
Ou seriam apenas vozes de um mundo que me ensinou a desejar o que nunca precisei?
É assim que a participação mística moderna nos enreda:
não com deuses da floresta ou mitos da tribo,
mas com slogans, algoritmos e sonhos prontos embalados à vácuo.
Nos fundimos ao objeto, ao status, à imagem.
E perdemos o fio de quem somos.
Mas há uma saída.
Não é fácil, nem rápida —
mas é viva.
É o caminho de volta à alma,
a trilha da individuação:
sair da multidão simbólica
para ouvir a própria voz.
Exige coragem.
Coragem de decepcionar, de parecer estranho,
de desapegar da versão idealizada de si.
Requer olhar para dentro
e enfrentar a sombra —
aquela parte ignorada, malcheirosa, às vezes selvagem,
que guarda, no entanto, a semente do que você verdadeiramente é.
É preciso também aprender a estar só,
não como quem foi deixado para trás,
mas como quem retorna ao próprio templo interior.
Lá, no fundo do silêncio,
algo respira.
Algo antigo e novo.
Algo seu.
E quando você o encontra,
não precisa mais se fundir com o mundo.
Pode habitá-lo com leveza, com presença, com verdade.
Não será mais um reflexo,
mas um centro.
Não mais um espelho,
mas uma fonte.
Dra. Luana Schuarts
CRM 38301 | RQE 28408
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