Ultimamente, tenho pensado muito sobre as pessoas aventureiras que viajam com pouca bagagem: mochileiros, velejadores, exploradores. Imagino a complexidade de selecionar cada item antes de partir. Levar pouco pode ser arriscado, mas levar demais também. Deixar algo essencial para trás pode levar a situações complicadas — e a um arrependimento daqueles: “Se eu tivesse trazido um abridor de latas, quem sabe sobreviveria agora…” Por outro lado, cada objeto ocupa espaço, pesa e exige cuidado. Que sabedoria essas pessoas desenvolvem (muitas vezes à força)! Essa habilidade, por si só, já desperta minha profunda admiração.
Lembro-me de um medo peculiar que minha mãe sempre mencionava: o que salvaria se sua casa estivesse pegando fogo? Ela dizia que já passou muito tempo imaginando essa situação, mas nunca conseguiu decidir com clareza. Sempre havia a sombra da dúvida, aquela angústia de deixar para trás uma vida inteira de memórias concretas. Infelizmente, essa tragédia é real para muitas pessoas — as guerras nos mostram isso todos os dias.
Mas voltando aos viajantes, há algo fascinante em sua habilidade de cultivar o desapego. Eles provam que é possível ir muito longe com pouco. Talvez essa seja uma das maiores lições para o nosso tempo: questionar as “necessidades” materiais que criamos em nossa mente. Muitas vezes, essas fantasias nos impedem de avançar com o que já temos hoje. Sim, essas pessoas não levam uma vida de luxo ou conforto. Mas será que isso não faz parte do espírito da aventura? Colocar-se à prova, conhecer seus limites, aumentar a resiliência? Acho que sim. E essa filosofia de vida é algo que todos podemos aplicar, de alguma forma, ao nosso cotidiano.
O minimalismo tem me atraído cada vez mais. Vivemos em um mundo repleto de informações, estímulos e ofertas que tentam nos convencer de que precisamos de muito para sermos felizes. Mas, ultimamente, tenho valorizado cada vez mais algo que nenhum dinheiro pode comprar: o tempo. Esse recurso tão precioso, muitas vezes desperdiçado em busca de coisas que, no fundo, não importam. O tempo que gastamos adquirindo bens, nos deslocando, nos distraindo… Tudo isso pode facilmente nos afastar do que é realmente importante para nós.
Mas para saber o que realmente importa, é preciso autoconhecimento. É necessário encontrar sentido em cada escolha que fazemos. Esse é um exercício diário. Perguntar-se: “O que eu quero é realmente o que eu quero? Está alinhado com quem eu sou e com o que desejo para minha vida?” Sair do piloto automático é essencial para quem busca uma existência plena e satisfatória.
Vale lembrar que somos responsáveis pela nossa vida, quer a vivamos de forma consciente ou não. No entanto, lidar com as consequências de escolhas conscientes é infinitamente menos doloroso do que viver à deriva, levado pelo acaso, sem uma postura ativa diante da existência.
Como disse Carl Jung, em uma de suas reflexões mais conhecidas:
“Enquanto você não transformar o inconsciente em algo consciente, ele continuará guiando sua vida, e você o chamará de destino.”
Dra. Luana Schuarts
Psiquiatra e Psicoterapeuta Junguiana
CRM 38301 | RQE 28408
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